terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

CULTURA DE VERDADE, CULTURA DE MENTIRA

25.02.2013 - Cartaz irregular fixado na parede externa da Fundação das Artes.
O anúncio desrespeita a Lei Cidade Limpa.

Neste domingo, dia 24 de fevereiro, no Teatro Paulo Machado de Carvalho, após 30 minutos de atraso para o início da segunda sessão da peça infantil “Toy Story”, diante de uma plateia lotada, foi feita uma locução (não se sabe se gravada ou ao vivo) por meio da qual a produção do espetáculo destaca, dentre outras informações, que “a partir de agora, finalmente, a cidade vai ter cultura de verdade” e, em seguida, agradece nominalmente o Secretário Municipal de Cultura.

Sem entrar na avaliação de mérito da atividade artística, sua legitimidade em relação com a cultura brasileira e a produção cênica atual (para tanto, clique aqui para ler artigo do professor Warde Marx sobre o espetáculo “ToyStory”), o que salta aos olhos (e aos ouvidos) é que não é possível admitir, nos espaços culturais de São Caetano, discursos e práticas de produtores que desconheçam o que é/foi feito na cidade e que desconsideram que a cultura é resultante de um processo histórico que se constrói a partir de escolhas, encontros e desencontros, erros e acertos, a existência de ações e, também, a falta delas. Em qualquer lugar que seja, por melhor ou pior que seja a situação, nenhum governo ou secretaria de cultura está “inventando” a cultura ou a ação cultural. Portanto, não existe nada mais vazio e falso do que afirmar que “agora sim vamos ter cultura de verdade”.

Pois, para existir “uma cultura de verdade” é necessário que exista, portanto, “uma cultura de mentira”. Se a tal “cultura de verdade”, como afirma o produtor do espetáculo “Toy Story”, não existia (começou a existir agora, em especial com os espetáculos trazidos por ele), tudo o que era feito antes era “de mentira”. Assim, o que foi apresentado nos espaços culturais de São Caetano antes de sua “chegada triunfal” é “mentira”: mais de trinta espetáculos das escolas e academias de dança da cidade e região; espetáculos de teatro amador, profissional e estudantil; shows musicais e peças infantis realizados pelo SESC; apresentações de alunos e professores da Fundação das Artes; mostra de Hip Hop e outras ações para a juventude; Entoada Nordestina, Feiras e ocupações de artesanato, Exposições e publicações da Fundação Pró-Memória; só para citar algumas das muitas ações feitas nos últimos anos.

Parece que a proposta do produtor se pauta, exclusivamente, pelo retorno ao princípio lançado anos atrás por FHC: “Cultura é um bom negócio”, que na prática significava que “Cultura de verdade é só aquela que pode ser um negócio”. Muito rentável, de preferência (leia-se fazer três sessões seguidas, lotadas, lucrando o máximo possível). Essa é a função de uma Secretaria de Cultura: lotar o teatro, arrecadar o máximo possível e permitir que a ideia de cultura seja ditada por um produtor que obviamente desconhece a ação cultural da cidade (ou de qualquer lugar)?

Nada contra um espetáculo que atraia público e que movimente os espaços culturais. É sempre bom ver a casa lotada. Tudo contra discursos que desvalorizam a diversidade cultural e as práticas locais, tão defendidas pelo projeto de lei do Plano Municipal de Cultura (motivo da Caminhada Artística que atraiu quase 200 pessoas e foi realizada, semana passada, pela Avenida Goiás e Câmara Municipal).

Não podemos mais aceitar a confusão entre "há muito a ser feito" (isso em cultura é sempre uma realidade) com "nada nunca foi feito". E muito menos podemos aceitar que esse tipo de discurso da “cultura de verdade” se perpetue. A criação artística em São Caetano, por exemplo, necessita de investimentos urgentes, pois, de fato, nunca foi verdadeiramente estimulada. Mas isso não significa que tudo o que foi feito era “de mentira”. Cultura é um processo - é sempre melhor partir do que já existe ao invés de destruir o pouco já construído.

Já está na hora de romper com o discurso trazido pelos colonizadores de que "é preciso destruir o que existe para construir algo novo, bom de verdade", que nada mais é do que um eterno e desnecessário recomeço/retrocesso. Esse discurso, típico de eleições, nada contribui para construção de políticas culturais que entendam a cultura como vetor de desenvolvimento simbólico, econômico e principalmente humano. Ampliar e melhorar é o que se espera. Desconstruir, não.

A legitimidade de uma nova ação está diretamente ligada à capacidade de um gestor de dialogar com a realidade que apresenta.  Esperemos que este discurso equivocado do produtor cultural seja veemente condenado pela Secretaria Municipal de Cultura e que os cidadãos que levam seus filhos para se divertir não sejam expostos, nunca mais, a este tipo de discurso vazio e equivocado.

Em tempo, uma denúncia (já devidamente registrada na Ouvidoria Municipal com manifestação número 135.129.455.535): este mesmo produtor, profundo conhecedor de cultura, responsável pelo dito espetáculo infantil “Toy Story”, também vai trazer “Manual Prático da Mulher Desesperada”. Detalhe, mesmo conhecendo a Lei nº 4.831/2009 (chamada de Lei Cidade Limpa, da qual ele já foi informado no ano passado), o produtor colou inúmeros cartazes, de forma ilegal, em paredes externas da Fundação das Artes e comércio do Bairro Nova Gerty.

Esta é, portanto, a tal “cultura de verdade”: um negócio, que desconsidera a cultura anteriormente produzida em São Caetano e que não respeita as leis da cidade?

O que a atual gestão da Secretaria Municipal de Cultura acha disso?
Aguardamos posicionamento e respostas, dessa e de outras questões anteriormente apresentadas.

Cartazes irregularmente colados em parede de prédio comercial na Rua Cavalheiro Ernesto Giuliano, 760
(ao lado da Fundação das Artes). O anúncio fere o art. 9 da Lei 4831/2009 e é do mesmo produtor de "Toy Story".
O dono do imóvel, em contato telefônico, informou que não foi consultado sobre o anúncio. 

4 comentários:

  1. EMPORCALHAR A CIDADE: A GENTE VÊ POR AQUI!

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  2. E QUE LEGAL QUE AGORA SÃO CAETANO DO SUL VAI TER UMA CULTURA QUE SE DEVE TER PARABENS PROFESSORES E ALUNOS DA FUNDAÇÃO DAS ATES NÒS ALUNOS E VCS PROFESSORES VANESSA WARDE, CELSO,SIMONE TODOS NO GERAL VOCÊS MERECEM POR QUE VOCÊS TEM MUITAS CAPACIDADES DE LEVANTAR O NOME DA FUNDAÇÃO DAS ARTES SÃO CAETANO MERECE

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  3. Vamos fazer um postv sobre o assunto ai em são caetano?

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