25.02.2013 - Cartaz irregular fixado na parede externa da Fundação das Artes. O anúncio desrespeita a Lei Cidade Limpa. |
Neste domingo, dia 24 de fevereiro, no Teatro Paulo Machado de Carvalho, após 30 minutos de atraso para o início da segunda sessão da peça infantil “Toy Story”, diante de uma plateia lotada, foi feita uma locução (não se sabe se gravada ou ao vivo) por meio da qual a produção do espetáculo destaca, dentre outras informações, que “a partir de agora, finalmente, a cidade vai ter cultura de verdade” e, em seguida, agradece nominalmente o Secretário Municipal de Cultura.
Sem entrar
na avaliação de mérito da atividade artística, sua legitimidade em relação com
a cultura brasileira e a produção cênica atual (para tanto, clique aqui para ler artigo do professor Warde Marx sobre o espetáculo “ToyStory”), o que salta aos olhos (e aos ouvidos) é que não é possível admitir,
nos espaços culturais de São Caetano, discursos e práticas de produtores que
desconheçam o que é/foi feito na cidade e que desconsideram que a cultura é
resultante de um processo histórico que se constrói a partir de escolhas, encontros
e desencontros, erros e acertos, a existência de ações e, também, a falta delas.
Em qualquer lugar que seja, por melhor ou pior que seja a situação, nenhum
governo ou secretaria de cultura está “inventando” a cultura ou a ação
cultural. Portanto, não existe nada mais vazio e falso do que afirmar que “agora
sim vamos ter cultura de verdade”.
Pois,
para existir “uma cultura de verdade” é necessário que exista, portanto, “uma
cultura de mentira”. Se a tal “cultura de verdade”, como afirma o produtor do
espetáculo “Toy Story”, não existia (começou a existir agora, em especial com
os espetáculos trazidos por ele), tudo o que era feito antes era “de mentira”.
Assim, o que foi apresentado nos espaços culturais de São Caetano antes de sua
“chegada triunfal” é “mentira”: mais de trinta espetáculos das escolas e academias
de dança da cidade e região; espetáculos de teatro amador, profissional e
estudantil; shows musicais e peças infantis realizados pelo SESC; apresentações
de alunos e professores da Fundação das Artes; mostra de Hip Hop e outras ações
para a juventude; Entoada Nordestina, Feiras e ocupações de artesanato, Exposições e publicações da Fundação Pró-Memória; só para citar algumas das muitas ações feitas nos últimos
anos.
Parece
que a proposta do produtor se pauta, exclusivamente, pelo retorno ao princípio
lançado anos atrás por FHC: “Cultura é um bom negócio”, que na prática significava que “Cultura de
verdade é só aquela que pode ser um negócio”. Muito rentável, de preferência
(leia-se fazer três sessões seguidas, lotadas, lucrando o máximo possível).
Essa é a função de uma Secretaria de Cultura: lotar o teatro, arrecadar o
máximo possível e permitir que a ideia de cultura seja ditada por um produtor
que obviamente desconhece a ação cultural da cidade (ou de qualquer lugar)?
Nada
contra um espetáculo que atraia público e que movimente os espaços culturais. É sempre bom ver a casa lotada. Tudo
contra discursos que desvalorizam a diversidade cultural e as práticas locais,
tão defendidas pelo projeto de lei do Plano Municipal de Cultura (motivo da
Caminhada Artística que atraiu quase 200 pessoas e foi realizada, semana
passada, pela Avenida Goiás e Câmara Municipal).
Não
podemos mais aceitar a confusão entre "há muito a ser feito" (isso em
cultura é sempre uma realidade) com "nada nunca foi feito". E muito
menos podemos aceitar que esse tipo de discurso da “cultura de verdade” se
perpetue. A criação artística em São Caetano, por exemplo, necessita de
investimentos urgentes, pois, de fato, nunca foi verdadeiramente estimulada.
Mas isso não significa que tudo o que foi feito era “de mentira”. Cultura é um processo - é sempre melhor partir do que já existe ao invés de destruir o pouco já construído.
Já
está na hora de romper com o discurso trazido pelos colonizadores de que
"é preciso destruir o que existe para construir algo novo, bom de verdade",
que nada mais é do que um eterno e desnecessário recomeço/retrocesso. Esse
discurso, típico de eleições, nada contribui para construção de políticas
culturais que entendam a cultura como vetor de desenvolvimento simbólico,
econômico e principalmente humano. Ampliar e melhorar é o que se espera.
Desconstruir, não.
A
legitimidade de uma nova ação está diretamente ligada à capacidade de um gestor
de dialogar com a realidade que apresenta. Esperemos que este discurso
equivocado do produtor cultural seja veemente condenado pela Secretaria
Municipal de Cultura e que os cidadãos que levam seus filhos para se divertir
não sejam expostos, nunca mais, a este tipo de discurso vazio e equivocado.
Em
tempo, uma denúncia (já devidamente registrada na Ouvidoria Municipal com manifestação número 135.129.455.535): este
mesmo produtor, profundo conhecedor de cultura, responsável pelo dito
espetáculo infantil “Toy Story”, também vai trazer “Manual Prático da Mulher
Desesperada”. Detalhe, mesmo conhecendo a Lei nº 4.831/2009 (chamada de Lei
Cidade Limpa, da qual ele já foi informado no ano passado), o produtor colou inúmeros
cartazes, de forma ilegal, em paredes externas da Fundação das Artes e comércio
do Bairro Nova Gerty.
Esta
é, portanto, a tal “cultura de verdade”: um negócio, que desconsidera a cultura anteriormente
produzida em São Caetano e que não respeita as leis da cidade?
O que
a atual gestão da Secretaria Municipal de Cultura acha disso?
Aguardamos
posicionamento e respostas, dessa e de outras questões anteriormente
apresentadas.
EMPORCALHAR A CIDADE: A GENTE VÊ POR AQUI!
ResponderExcluirE QUE LEGAL QUE AGORA SÃO CAETANO DO SUL VAI TER UMA CULTURA QUE SE DEVE TER PARABENS PROFESSORES E ALUNOS DA FUNDAÇÃO DAS ATES NÒS ALUNOS E VCS PROFESSORES VANESSA WARDE, CELSO,SIMONE TODOS NO GERAL VOCÊS MERECEM POR QUE VOCÊS TEM MUITAS CAPACIDADES DE LEVANTAR O NOME DA FUNDAÇÃO DAS ARTES SÃO CAETANO MERECE
ResponderExcluirVamos fazer um postv sobre o assunto ai em são caetano?
ResponderExcluirVamos lá, Neri Silvestre. Entre em contato conosco.
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