quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Senhores é tempo de diálogo!


A Fundação das Artes sempre esteve em crise e isto é um fato. Sua existência é fruto da persistência. Acredito sim que há muito para se mudar. Creio que todos querem mudanças. Mas é preciso estar aberto para ouvir. É preciso conhecer a história e o funcionamento da instituição. Espero que haja humildade para que se reconheçam as falhas de comunicação e conduta antes que comecem a se repetir as histórias. A FASCS é uma escola de ARTES e precisa ser administrada por um gestor que compreenda suas especificidades. Tomara que se estabeleça o diálogo, pois não quero abrir o jornal e dar de cara com uma notícia como a publicada no Diário do Grande ABC, na sexta-feira, 11 de março de 1983:

MEIO CULTURAL CONTRA A EXTINÇÃO DA FUNDAÇÃO
A Fundação das Artes de São Caetano deve ser mantida a qualquer custo. Esta é a opinião de três pessoas ligadas à Cultura no Grande ABC, discordando do presidente do Conselho de Curadores da instituição, Ítalo Dal’Mas, que afirmou na última terça-feira não pretender salvar a entidade, caso seu objetivo de manter as escolas de arte não seja seguido à risca.
            O secretário de Educação, Cultura e Esportes de Santo André, Durval Daniel, disse que a Fundação, assim como todos os núcleos culturais da região, têm de ser preservados, porque a área cultural está completamente desativada. José Armando Pereira da Silva, ex-curador da instituição e produtor cultural de Santo André, considerou que Ítalo Dal’Mas desconhece o significado das atividades da Fundação das Artes em seus 15 anos de existência e não tem condições de avaliar a situação da entidade porque não acompanhou de perto o trabalho. Por sua vez, o ex-secretário de Educação, Cultura e Esportes de São Bernardo do Campo e deputado estadual, Fernando Leça, afirmou que não tinha consciência, antes das declarações do presidente do Conselho de Curadores dos perigos que cercavam a sobrevivência da entidade.
Ítalo Dal’Mas publicou um artigo, sábado, num jornal de São Caetano, onde emite várias opiniões acerca da instituição dizendo que “razões de sobra possuem os que, como o prefeito Walter Braido, manifestaram-se favoráveis à extinção da Fundação das Artes”. Segundo declarou na última terça-feira, os objetivos da entidade foram desvirtuados, porque ela reduziu-se a festivais artísticos e promocionais, e transformou-se em mero centro de distrações ou de “ocupações de funcionários relapsos e de curadores ociosos que fazem o jogo das trocas ou se limitam a realizar exibições supostamente modernas”.
Durval Daniel disse ontem que considera Ítalo Dal’Mas uma pessoa competente que saberá contornar essa situação para manter a Fundação das Artes. “Se existem desvios, eles devem ser corrigidos. O Grande ABC está ruim na área cultural, e por isso, a Fundação tem de ser preservada” – salientou o secretário.
José Armando Pereira da Silva disse que a atitude de Ítalo Dal’Mas, ao fazer aquelas declarações, é totalmente errada e mostra que ele desconhece as atividades da instituição. “Só uma pessoa provinciana como ele demonstra ser em suas crônicas de jornal é capaz de ter essa opinião. Ele não tem a menor condição de avaliar a entidade, porque não acompanhou o trabalho que vem sendo desenvolvido nestes 15 anos de sua existência” – observou, acrescentando: “É lamentável a Administração conhecer os 15 anos de Fundação das Artes, tirar Milton Andrade da direção e colocar como presidente do Conselho de Curadores uma pessoa totalmente desligada da atividade artística da região”.
O deputado Fernando Leça, que a partir do dia 15 assume sua cadeira na Assembleia Legislativa prometendo lutar pela educação e cultura da região, considerou as declarações e os conceitos emitidos pelo presidente do Conselho de Curadores revelam alguma confusão e acentuada incoerência: “Primeiro, o sr. Dal’Mas reconhece razões de sobra às pessoas – entre as quais inclui o prefeito Walter Braido que propugnam pela extinção da entidade. Logo depois, reconhece também os nobres objetivos da instituição. E arrematando a contradição, mas assumindo-a implicitamente, afirma que não lhe passa pela cabeça a ideia de salvar a Fundação”.
Prosseguindo em depoimento, Leça coloca: “Se formos levados a concordar com a análise do sr. Dal’Mas e admitir a veracidade de suas acusações quanto aos desvios de finalidade da Fundação e a falta de seriedade no emprego dos dinheiros públicos que lhe tem sido destinados, ainda assim não poderíamos jamais concordar com a terapia suicida que se preconiza. Faltam-me elementos para contestar o seu diagnóstico, mas não posso aceitar a ideia de que a solução seja matar o doente. Nego-me a acreditar, como já disse em outra oportunidade, que o Prefeito Walter Braido, criador da Fundação das Artes, se disponha agora a extinguí-la”.
Ele disse que não conhece os estatutos da entidade e os detalhes do seu funcionamento interno, e não está em condições de emitir juízo de valor sobre descompasso eventual entre uma coisa e outra, mas considera também natural que a sua filosofia de ação seja reajustada. “O que não posso admitir é a simples cogitação, a mera hipótese de dar cabo a uma experiência tão rica e tão consistente como é a escola de música mantida pela Fundação das Artes, além de outras de suas atividades. Reitero a convicção de que o prefeito Walter Braido não compartilha da ideia de fechar a entidade. Pretendo procura-lo, para certificar-me pessoalmente disso e espero fortalecer essa certeza” – comentou o deputado.
Fernando Leça propôs-se, caso as dificuldades da instituição sejam de ordem financeira – já que ela é subsidiada apenas pela Prefeitura de São Caetano -, a levar ao governador Franco Montoro e ao futuro secretário de Cultura do Estado, deputado Pacheco e Chaves, a reivindicação de uma ajuda por parte do Estado, através de um convênio ou qualquer outra forma. “Acho até justo que isso aconteça” – finalizou.

Tomara que isto seja apenas um registro de um passado distante.


Paula Venâncio
Mestre em Comunicação. Jornalista. Pesquisadora do Teatro no ABC. Artista do subúrbio. Moradora de São Caetano do Sul. Atriz formada pela FASCS. Ex-aluna bolsista (período em que ainda morava em Santo André) da escola de teatro e de artes visuais.

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